quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Com as tripas das sacas de compras de fora, ou como as pessoas podem ser (ainda) mais estúpidas, amén

Se o natal é quando o homem quiser, e eu nunca quero, não entendo por que razão "a coisa" se repete todos os anos...

Não é novidade nenhuma que eu tenho um certo e determinado sentimento pelo natal que está muito próximo do ódio. Nos últimos anos tenho cuspido o meu veneno por todo o lado, mais propriamente, por aqui e por acolá, sobre aquela que considero a pior e mais deprimente época do ano. Não tenho boas recordações e parece que há sempre um refluxo, carregadinho de urânio de tão radioactivo, a subir-me pela goela acima todos os anos quando vejo decorações natalícias nas montras das lojas, as luzinhas nas empenas dos edifícios, as músiquinhas horrorosas... e me lembro da via-sacra de compras que vou ter que percorrer outra vez.

Odeio. Fazer. Compras. Sobretudo as de natal. Primeiro: a pesquisa. Tento sempre encontrar prendas que sejam "a cara" das pessoas que as vão receber. Em determinados casos, acabo por "fazer" eu os presentes, uma coisa personalizada, às vezes um pouco trambolha, mas com carinho. (A intenção é que conta, não é verdade? =P ). Segundo: a demanda. Os itens que vimos online não estão disponíveis na loja que visitamos, as pessoas empurram e espezinham "a concorrência" que lhes tenta surripiar as prendas, metade do stock de chocolates da Nestlé e o bacalhau crescido em quantidade para alimentar um batalhão para a ceia onde vão estar apenas quatro pessoas, mesmo nas suas barbas. As lojas estão super quentes e com aquelas melodias dos infernos, que mais parece que, a qualquer momento, poderei ver labaredas a espreitar do expositor mais próximo.

No ano passado fui ao shopping aqui perto para comprar as prendas do Moço. Cheia de saquinhas (eram só três, e duas delas pequeninas, mas eu sou raçada de Leprechaun), ponho um pé fora do edifício... e sou presenteada com uma chuvada medonha. Meia-Moça-Meia-Leprechaun prevenida que sou, levei guarda-chuva... mas também sou trambolha. Por isso, tentei, o melhor que pude, resguardar as sacas mais pequenas, já que uma delas tinha um moinho de café e cereais para o Moço, virando-as para dentro e tentando que o guarda-chuva as protegesse. Muito obviamente, a única saca de papel, a maior, onde levava um robe para o Moço e também algumas coisas para mim, ficou virada para fora. Mas eu, Meia-Moça-Meia-Leprechaun prevenida que sou, mas também crente, achei que a saca sobrevivia a uma pequena viagem de 10 minutos, até porque o aparelhómetro era a prioridade.

Pouco depois de ter deixado o shopping, comecei a reparar que as poucas pessoas que se cruzavam comigo me fitavam com o ar, diga-se, meio parvo. Para ser sincera, já estou habituada que as pessoas fiquem meias tontas a olhar para mim, porque ver uma moça de roupa preta (muito fáshiôn, por acaso) é coisa para vir na capa do jornal diário. Daí que não dei muita importância à questão, apesar de começar a sentir umas comichõezinhas por mim acima.

Entretanto, passei por uma pessoa que estava a tirar o carro de uma garagem da rua que, também ela, ficou a olhar para mim feita idiota e, reparei eu, espreitou pela janela algures para a "zona da minha pessoa" onde também estavam os sacos. Instintivamente, olhei para baixo. A saca de papel que tinha no braço estava toda molhada na parte de baixo, por causa da chuva, e estava aberta já com o conteúdo, constituído pelo dito robe e as minhas cuecas do Mickey e do Batman, a esbordar-se todo para a calçada, quase num golpe de malabarismo circense.

E ninguém, das várias criaturas que passaram por mim na rua, foi capaz de me avisar que tinha a porra das tripas da saca de fora, prestes a esbardalhar-se pelo passeio. Incluindo, insisto, as minhas cuecas.


Claro que, se fosse para criticar a forma como me visto, o tamanho das minhas unhas (sim, isso já aconteceu...), ou a maneira como olho para o pardal que acabou de pousar no parapeito da casa mais próxima, era xinganço estilo Auto de Fé no momento, sem pensar duas vezes. Mas avisar uma pessoa que tem uma saca aberta com as cuecas quase a fazer um caminhinho como as pedrinhas do Hansel, isso já não. Vamos só ficar a olhar feitos atrasados mentais.

Será que já disse que odeio o natal? E pessoas? Também odeio pessoas. Tenho dito.



P.S.: Lembram-se da caça de dragões e da chuva que nos molha, tipo balde de água fria, e que esperamos que não seja para sempre? Pois é, podemos dizer que tive que enfrentar um verdadeiro Cauda de Chifre da Hungria... mas consegui subir a nota do meu exame escrito e passar à fase seguinte. Agora, estou à espera que marquem a minha oral para, finalmente, terminar o estágio da Ordem (admitindo que consigo ser aprovada à primeira *faz figas*). Obrigada a todos os que aturaram as minhas pancas e me deram força para ultrapassar mais este obstáculo, em especial, ao Moço, claro. Porque sim, não pode chover para sempre.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Walls

Eu cá não sou pessoa de me meter em politiquices, mas há muito mais do que isso envolvido na última eleição à presidência dos USA.

Bem cedinho, quando ouvi que o Senhor Trump seria o novo detentor de uns quantos códigos nucleares, pensei que tinha dormido demasiado e acordado no primeiro dia do mês de Abril de 2017, estilo Cinderella pobreta (a outra dormiu por cem anos, eu só me posso ficar por alguns meses). Mas afinal era verdade. Podemos dizer, sem grande alarido ou razão de ciência, que ganhou o descontentamento e a ignorância. Hillary não era a melhor candidata, mas era, sem dúvida, uma opção melhor que esse senhor que foi eleito chefe de estado da "terra da liberdade".

Sejamos sinceros: a América tem o presidente que escolheu. Reflectindo com um pouco de calma, a verdade é que a América tem um presidente à sua imagem e semelhança. O pai de Trump é filho de emigrantes alemães, a mãe é escocesa. Estudou num colégio militar e fez fortuna com a ajuda do pai e à custa do trabalho de gente humilde, na sua maioria, negros e hispânicos, a quem paga miseravelmente. A América foi edificada pelos emigrantes europeus, oriundos sobretudo do UK, e que dizimaram os índios que os ensinaram a trabalhar a terra para não passar fome. Depois, sem mão de obra ao dispor, os colonos brancos importaram uns quantos escravos negros para trabalhar, aquecer as camas e chicotear quando necessário.

A vitória de Trump não é apenas uma derrota de Hillary e os seus democratas. É uma derrota para o mundo inteiro, que poderá ficar comprometido, a qualquer momento, com apenas uma palavra daquele senhor. Talvez os Americanos que elegeram Trump (e que, segundo o próprio, pelo menos nos idos anos 80, são burros e acreditam em qualquer coisa), não tenham realmente a noção do que é ter um louco a governar o seu destino, cujo país pode ser descrito, poucas palavras, como sendo desprovido de História, cultura ou mitologia. A Europa, continente de "grandes snobs", ao contrário, teve duas guerras mundiais travadas no seu território, viu um vasto número de impérios erguer-se e tornar-se cinza, foi palco de bizarros espectáculos proporcionados por diversos lideres despóticos. A América, país com uns meros 240 anos, nas sábias palavras de Alejandro Jodorowsky, tem o Super Homem.

Hoje, no dia em que, há vinte e sete anos, muros foram derrubados, outros se levantam. E não são apenas muros físicos, que dividem geografias, são muros que existem dentro e por dentro da Humanidade. Muros cujos tijolos são a intolerância, o racismo, a xenofobia, a homofobia, a descriminação, o ódio, a ignorância. Posso estar enganada, e espero que, mais tarde, se perceba que sim, mas temo que a Liberdade tenha sido despedida.



ADENDA: Acabei agora de reparar numa coisa curiosa e relativamente desconcertante. Ontem foram 09 de Novembro. 9/11.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Eu e o Jared Leto usamos o mesmo creme anti-rugas


Certo dia, estava numa esplanada com alguns colegas do escritório. Eram todos mais velhos que eu. Eis senão quando, um indivíduo, aproximando-se da nossa mesa, e depois de cumprimentar um dos meus colegas, alvitrou que eu seria a filha dele. O meu colega desfez logo o engano, em resposta do que, o mesmo indivíduo, pedindo desculpa, declarou que pensava que eu tinha dezasseis anos.

Eu só tenho mais dez.

Ok, não vou negar que, daqui a uns anos, vai-me saber bem já estar nos trinta e tirarem-me uns anitos de cima dos ombros e das linhas finas do rosto. Noutras circunstâncias teria rido, mas esta situação foi simplesmente infeliz e desnecessária. É muito chato quando, mesmo que te "vistas bem" e uses saltos altos, ninguém te respeita no trabalho (não foi o caso, mas houve situações que não esteve muito longe) só porque tens bons genes anti-envelhecimento. Não vou fazer umas plástica à cara para parecer mais velha. E não vejo ninguém a queixar-se da fresca vitalidade do Jared Leto.

Resta-me o truque da cara à la Wednesday Addams. Se estiver de trombas, pelo menos, as pessoas pensam duas vezes antes de vomitarem a primeira alarvidade que lhes vier à moleirinha. Por incrível que pareça, ter ar de maldisposta funciona melhor que ser-se bem educada. Porquê, nunca entenderei.

Ainda assim, sempre me consola pensar de mim para comigo que, daqui a uma década, eu vou ter a fuça linda e viçosa, e as meninas pintadinhas e "muito adultas" vão ter a cara como a segunda circular. Nesses momentos, pode ser que um sorriso, também à la Wednesday, passe pela minha face.

A minha vida dava uma Ramona. Um dia destes, quem sabe.



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